Saúde
16/12/2025
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Vacina comum pode ajudar a reduzir o risco de demência, apontam estudos

Pesquisas internacionais indicam que a imunização contra herpes-zóster pode proteger o cérebro na velhice e até retardar a evolução da doença, um tema que afeta milhões de famílias.

A demência já afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca de 10 milhões de novos casos surgem a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. Apesar de décadas de pesquisa, os avanços em prevenção e tratamento ainda são limitados. Agora, novos estudos científicos levantam uma possibilidade promissora: uma vacina já conhecida pode ajudar a reduzir o risco da doença e até desacelerar sua progressão.

Pesquisadores observaram que vacinas contra o herpes-zóster, doença popularmente conhecida como cobreiro, estão associadas a uma redução de cerca de 20% nos diagnósticos de demência. Além disso, os dados indicam que a vacinação pode retardar o avanço da doença em pessoas que já apresentam sintomas.

Uma das pesquisas foi conduzida por cientistas da Stanford Medicine e publicada em abril de 2025 na revista científica Nature. O estudo analisou registros de saúde de mais de 280 mil idosos do País de Gales. Os resultados mostraram que pessoas vacinadas contra o herpes-zóster tiveram 20% menos chance de desenvolver demência nos sete anos seguintes, em comparação com aquelas que não receberam a vacina.

Um segundo estudo, publicado em dezembro de 2025 na revista Cell, trouxe um dado ainda mais relevante para quem já convive com a doença. Entre pacientes com demência, os vacinados apresentaram um risco significativamente menor de morte relacionada à condição.

Os pesquisadores conseguiram chegar a esses resultados graças a uma política de vacinação específica adotada no País de Gales. A partir de setembro de 2013, a vacina contra herpes-zóster passou a ser oferecida apenas a pessoas que completavam exatamente 79 anos naquela data, com validade de um ano. Quem já tinha 80 anos ficou fora do programa. Esse critério rígido, baseado apenas na data de nascimento, permitiu comparar grupos muito semelhantes, reduzindo distorções comuns em estudos desse tipo.

“Em muitos estudos, pessoas que se vacinam costumam ter hábitos de saúde diferentes das que não se vacinam, o que dificulta a análise”, explica Pascal Geldsetzer, professor assistente de Medicina da Universidade Stanford e autor principal das pesquisas. Nesse caso, os cientistas compararam pessoas nascidas com apenas uma semana de diferença, antes e depois do limite de idade para vacinação.

Quando os participantes tinham entre 86 e 87 anos, cerca de um em cada oito havia sido diagnosticado com demência. Entre os vacinados, o risco da doença foi 20% menor.

Segundo Geldsetzer, o efeito protetor apareceu de forma consistente, independentemente da forma de análise dos dados.

Os dois grupos avaliados apresentavam níveis semelhantes de escolaridade, adesão a outras vacinas e taxas de doenças como diabetes, problemas cardíacos e câncer, o que reforça a relação entre a vacina e o menor risco de demência.

O segundo estudo analisou se o benefício ia além da prevenção. Os pesquisadores observaram que pessoas vacinadas tinham menor probabilidade de desenvolver comprometimento cognitivo leve ao longo de nove anos. Entre mais de 7 mil idosos que já tinham demência no início do programa, quase metade dos não vacinados morreu em decorrência da doença. Entre os vacinados, esse percentual caiu para cerca de 30%.

“Isso sugere que a vacina contra herpes-zóster pode ter não apenas um efeito preventivo, mas também um potencial terapêutico para quem já vive com demência”, afirma Geldsetzer.

Resultados semelhantes foram encontrados em registros de saúde da Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, o que reforça a consistência das conclusões.

O herpes-zóster é causado pelo vírus varicela-zóster, o mesmo da catapora, que permanece adormecido no organismo após a infância. Com o envelhecimento ou a queda da imunidade, o vírus pode se reativar, provocando dor intensa e inflamação. Segundo os pesquisadores, essa inflamação contínua pode contribuir para o declínio cognitivo. Ao evitar a reativação do vírus, a vacina ajudaria a proteger o sistema nervoso.

Outra hipótese é que a vacina fortaleça o sistema imunológico de forma mais ampla, ajudando o corpo a combater infecções associadas ao maior risco de demência.

Os estudos também mostraram que o efeito protetor foi mais forte em mulheres, possivelmente porque elas tendem a responder melhor às vacinas e têm maior risco de desenvolver herpes-zóster ao longo da vida.

A pesquisa analisou a vacina Zostavax, feita com vírus vivo atenuado, que não é mais produzida. Uma versão mais recente, chamada Shingrix, utiliza apenas partes do vírus e pode ter impacto semelhante ou até maior, embora isso ainda precise ser confirmado.

Agora, os pesquisadores buscam recursos para realizar um grande ensaio clínico controlado, que possa comprovar de forma definitiva a relação entre vacinação e redução da demência. Os dados indicam que os efeitos começam a aparecer cerca de 18 meses após a vacinação, o que torna esse tipo de estudo viável em um prazo relativamente curto.

As pesquisas receberam financiamento de instituições internacionais voltadas à saúde e ao envelhecimento, reforçando a relevância do tema para a ciência e para a qualidade de vida da população.

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