O aumento de tarifas adotado pelos Estados Unidos para mais de 60 países, que entrou em vigor na semana passada, já começa a provocar efeitos no cenário econômico global. De acordo com a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, a medida, apelidada de “Tarifaço”, deve gerar mais inflação no mercado norte-americano. Por outro lado, tende a reduzir os preços em outras economias, incluindo o Brasil.
Isso acontece porque a oferta que deixará de ir para os Estados Unidos será direcionada ao restante do mundo, elevando a disponibilidade de produtos e, consequentemente, pressionando preços para baixo. “A gente já vê algum efeito disso. Desde o início do Tarifaço, no dia 6 de agosto, o real vem se fortalecendo frente ao dólar, o que reforça essa expectativa de desinflação por aqui”, afirma Tatiana Pinheiro.
O cenário pode abrir espaço para mudanças na política monetária brasileira ainda este ano. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a estratégia de manter a taxa Selic no patamar de 15% por mais tempo, aguardando sinais mais claros do ambiente econômico global.
Nos Estados Unidos, membros do Federal Reserve (Fed) manifestaram cautela. Alguns demonstraram desconforto com a desaceleração do mercado de trabalho, enquanto outros aguardam para medir o impacto do aumento tarifário na inflação antes de decidir sobre cortes de juros.
Nesta semana, a divulgação da inflação norte-americana e dos dados de atividade econômica no Brasil será determinante para calibrar as apostas. “Se o cenário se confirmar, o Banco Central brasileiro pode ganhar condições para iniciar cortes de juros no fim do ano”, projeta Tatiana Pinheiro.