O Banco Central do Brasil deu sinais claros de que o ciclo de juros altos pode estar perto do fim. Na semana passada, documentos oficiais e declarações da autoridade monetária indicaram que a economia já começa a sentir os efeitos da política de combate à inflação, abrindo espaço para uma possível redução da taxa de juros já no início de 2026.
A avaliação é da economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, na coluna Fique de olho. Segundo ela, a Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe, pela primeira vez, o reconhecimento explícito de que os juros elevados estão ajudando a desacelerar a economia e a conter a inflação. A ata é um documento que detalha as discussões e decisões do Copom sobre a taxa básica de juros, conhecida como Selic, usada como principal instrumento para controlar a inflação.
Já o Relatório de Política Monetária, também divulgado pelo Banco Central do Brasil, adotou um tom mais cauteloso. Esse relatório apresenta análises mais amplas sobre o cenário econômico, inflação e perspectivas futuras. Apesar disso, na entrevista coletiva após a divulgação, o Banco Central deixou claro que existe abertura para iniciar cortes de juros já em janeiro, dependendo do comportamento da economia.
De acordo com Tatiana Pinheiro, o principal fator que vai definir essa decisão é o mercado de trabalho. Se os dados continuarem mostrando arrefecimento, ou seja, menos aquecimento na geração de empregos e na renda, cresce a chance de o Banco Central começar a reduzir os juros logo no começo do ano. Um mercado de trabalho menos aquecido tende a aliviar a pressão sobre os preços, ajudando no controle da inflação.
No cenário internacional, especialmente nos Estados Unidos, os dados recentes também ajudam a projetar o rumo dos juros em 2026. Os indicadores de emprego mostram que o mercado de trabalho norte-americano está perdendo força, com a criação de vagas concentrada em empregos mais precários, conhecidos como subempregos. Ao mesmo tempo, os números da inflação indicam que tarifas comerciais estão pressionando os preços, mas não a ponto de provocar uma aceleração significativa.
Mesmo ainda acima da meta, a inflação nos Estados Unidos segue em desaceleração. Esse conjunto de informações sinaliza que há espaço para cortes de juros no país, embora a expectativa seja de que isso aconteça apenas na metade do ano. As primeiras decisões de 2026 devem ser de manutenção das taxas, em uma espécie de pausa.
Outro movimento relevante da semana passada veio do Japão. O banco central japonês elevou a taxa de juros para 0,75%, o maior nível em 30 anos. Essa mudança pode ter impacto nos mercados globais de títulos públicos, que são papéis de dívida emitidos por governos e muito influenciados pelas decisões de juros.
No Brasil, a semana de Natal será mais tranquila em termos de indicadores econômicos. O principal dado previsto é a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15, o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial. A expectativa é de uma inflação baixa, mas o mercado seguirá atento ao comportamento da inflação de serviços, que costuma refletir mais diretamente o aquecimento da economia.
Este é o último Fique de Olho de 2025. A coluna retorna em 2026, acompanhando de perto os próximos passos da economia, dos juros e do bolso do consumidor.