São inegáveis os efeitos da pandemia da Covid-19, em alguns setores o impacto foi negativo, mas em outros afetou “positivamente”. A pandemia trouxe diversos desafios, que em muitos casos foram aproveitados para o desenvolver inovações e promover o crescimento pessoal e das empresas.
Esse é o caso do mercado financeiro, que apesar de se ver afetado pelos altos índices de inadimplência atual (72,9%, segundo os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor de agosto publicados pela CNC), do alto índice de desemprego (14,1% no segundo trimestre deste ano) e da baixa lucratividade dos negócios, projetam um cenário otimista.
Mesmo sem poder prognosticar as dimensões da crise, as diferentes empresas e instituições do setor estão tomando atitudes proativas desde o ano passado para garantir seu desenvolvimento e minimizar os efeitos. Uma das principais ações foi a migração dos serviços e do atendimento para os aplicativos, redes sociais e outros canais digitais. O que garante maior disponibilidade de serviços e horários para os correntistas e gerou um relacionamento mais rápido e menos burocrático, demonstrando maior interesse das instituições pelo cliente.
Estimular o atendimento por meio do mobile banking e o uso dos canais digitais para fazer pagamentos, foi uma necessidade no começo do ano de 2020. No entanto, agora é uma tendência, não só do mercado financeiro, mas também de todos os negócios e empresas que estão implementando estas estratégias.
Os consumidores superaram a desconfiança que tinham dos canais digitais e começaram a usar mais esta modalidade, por exemplo, com a simplicidade do Pix para fazer pagamentos ou o uso do QR code. Isso, apesar dos riscos reais destas operações, que ajudaram a desenvolver o segmento de tecnologias voltadas a garantir a segurança no mundo digital.
Confiança no sistema: cada vez são mais os brasileiros bancarizados
De acordo com o último informe do Global Findex Database, em 2017 69% da população mundial possuía conta em um banco, aumento de 7 p.p. desde a versão anterior da pesquisa, em 2014. Nesse estudo era considerado bancarizado quem possuía conta em alguma instituição financeira, e se destaca o fato que o porcentual que brasileiros que faziam pagamentos por meios on-line era insignificante.
O que fazia as pessoas permanecerem por fora do sistema bancário era, principalmente, a falta de renda (57,8% dos desbancarizados). Em segundo lugar, com 56,5%, estava o custo para formar parte do sistema; em terceiro o fato de um familiar já estar bancarizado (50,8%). Por último e não menos importante, a falta de confiança no sistema (25%).
Uma pesquisa nacional um pouco mais recente, feita pelo Instituto Locomotiva, aponta que em agosto de 2019, havia 45 milhões de brasileiros que estavam desbancarizados. Quantidade que caiu para 34 milhões em janeiro deste ano. Entre elas, 16,3 milhões não têm conta em nenhum tipo de instituição financeira e 17,7 milhões têm conta bancária, mas usam com pouca frequência ou não possuem acesso aos produtos.
Atualmente são em torno de 127,4 milhões de brasileiros (67%) que possuem contas bancárias, 51% em grandes bancos como a Caixa Econômica Federal, o Bradesco e o Banco do Brasil. Mas 39% possuem conta em bancos digitais, o Nubank, por exemplo, aparece depois destes grandes bancos como preferência dos entrevistados.
As vantagens dos bancos digitais respondem ao que em 2017 os brasileiros viam como aspectos que impediam o acesso ao sistema: oferecem maior confiança e menores custos, fato que agrada ao 66% da população que considera que as taxas cobradas pelos bancos para ter uma conta são muito elevadas, segundo esta pesquisa. No entanto, ainda 65% das pessoas bancarizadas são titulares de contas básicas, apenas para receber e sacar dinheiro.
Inclusão no sistema e a importância da educação financeira
Além das novas tecnologias e produtos, o processo de Open Banking está colaborando para que cada vez mais pessoas se somem a contratar serviços digitais. Este sistema de regulação aberta dá maior controle aos usuários sobre seus dados, sobre quais produtos consumir e onde. Mas também está estimulando a diversificação de produtos e permitindo a maior participação das novas startups do segmento. O que possibilita a aplicação de inovações e mudanças aceleradas no mercado financeiro.
A cada dia, nossas vidas se vinculam mais com o mundo digital. Neste sentido, os desenvolvimentos na área de cibersegurança, por si só, não são suficientes, é preciso da conscientização dos usuários. Isto é fundamental para garantir o aproveitamento destas novas tecnologias e todas as possibilidades que nos apresentam.
Os usuários dos canais digitais, especialmente do sistema financeiro, devem estar por dentro de como funcionam os serviços que consomem e também sobre como operam os sistemas que sua instituição disponibiliza. Afinal de contas, um dos principais motivos de desconfiança das pessoas é o aumento das fraudes. O desconhecimento é a principal forma que os criminosos usam para manipular suas vítimas, que por pouca informação ou ingenuidade confiam neles.
É preciso, tanto do investimento na inclusão financeira como também predisposição dos clientes para procurar informação e ficar por dentro, pelo menos dos serviços que mais utilizam. Afinal de contas, estar incluído financeiramente não é só ter uma conta bancária, é também aceder aos produtos e saber usar os serviços de forma vantajosa.
A inclusão financeira traz benefícios tanto para o indivíduo como também para a sociedade. Por exemplo, ao facilitar e permitir que mais pessoas possam fazer compras on-line, existe um movimento maior dos recursos fomentando assim a economia, vemos isso nos registros de transações com cartões de crédito ou débito.
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), os meios de pagamento digitais movimentaram R$ 52,6 bilhões, provenientes do auxílio emergencial em 2020. Isto foi possível graças ao aplicativo Caixa Tem, que permitiu a inclusão financeira de milhares de brasileiros que estavam fora do sistema.
Também, durante a pandemia, houve um aumento de 32,2% no comércio on-line, onde o uso do cartão permitiu a movimentação de R$ 2 trilhões no ano passado, 8,2% a mais do que no ano anterior. O uso do cartão de crédito teve uma alta de transações de 2,6% e o cartão pré-pago de 107,4%.
Apesar da situação vivida e com as restrições impostas, as facilidades que as novas tecnologias trazem tanto para os negócios como para os consumidores são muitas. No entanto, é preciso conhecimento sobre as modalidades de comercialização que existem hoje em dia e das formas de segurança.
A digitalização já é inevitável, agora resta somar iniciativas que apontem a conscientização e a educação sobre os serviços financeiros, para aumentar a confiança dos consumidores e a maior adesão aos serviços.
Fontes: Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC); Global Findex Database 2017, Mambu, Banco Central do Brasil, Fintech OMT, Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), Confederação Nacional de Bens, Comércio e Turismo (CNC), Instituto Locomotiva, Agência Brasil