Os grandes grupos financeiros que controlam a Seguradora Líder, administradora do seguro obrigatório DPVAT, deram mais um passo para alijar do processo de decisão as seguradoras operacionais, algumas delas integrantes do chamado Grupo das Independentes (GI), reunidas em resistência aos desmandos, irregularidades e ilegalidades que têm maculado a imagem desse seguro social nos últimos anos. Uma “chega para lá” no grupo foi dada na última quinta-feira 29 de março, em assembleia geral, ao ser despojado do Conselho de Administração (CA) pelos acionistas majoritários.
A opção pode ser interpretada como claro sinal de intransigência ao diálogo. E essa orientação ficou clara na assembleia com a eleição dos membros do CA. O fato é que os integrantes do chamado Grupo B de acionistas da Líder, as seguradoras operacionais do DPVAT, perderam representação. Coordenador do GI, Francisco Alves de Souza, que preside a Comprev Seguros, conta que dos seus cinco membros eleitos, apenas um pertence a companhia dedicada à operação do seguro: a Centauro, mesmo assim mais concentrada na regulação de sinistros e menos na recepção de pedidos de indenização, ou seja, no atendimento às vítimas de acidentes de trânsito. Na gestão anterior, o grupo tinha quatro representantes.
“Já faz um ano que companhias sócias da Líder denunciaram o acordo de acionistas. E nesse período, conversas foram retomadas para pacificar a Líder, em vão. Diante de tantas acusações de irregularidades, nada de relevante foi feito para barrar as denúncias”, conta Francisco de Souza.
Segundo ele, a opção dos grandes grupos é por isolar as seguradoras independentes, as que mais clamam por mudanças para reverter esse quadro e as que mais investem e trabalham na ponta, na recepção de processos. Para ele, isso denota que não predomina na Líder o interesse em fortalecer o atendimento ao cliente.
O executivo diz ainda que há um plano para consolidar o monopólio do seguro obrigatório DPVAT, onde falta por parte dos grandes grupos disposição para negociar, sempre protelam o debate sobre assuntos propostos pelo grupo. Outro ponto importante é a protelação sobre a instituição de um fundo para suportar sinistros provocados por veículos não identificados, tendo em vista a possibilidade de uma virada do sistema DPVAT para a livre concorrência. “Há essa necessidade, caso o DPVAT seja descentralizado. Quem vai pagar esses sinistros? Quem vai pagar os sinistros provocados pelos proprietários de veículos inadimplentes? Isso precisa ser resolvido”, argumenta.
O fato é que, no momento, segundo ele, se observa a Líder, na atual gestão, sendo preparada para tornar-se a companhia dos grandes grupos financeiros no sistema DPVAT, resolvendo tudo, inclusive a regulação de sinistro, sem depender das que são hoje as seguradoras operacionais.
Para ele, o projeto em curso visa a afastar do sistema as seguradoras que se dedicam e investem na operação do seguro DPVAT no modelo atual, como seria obrigação de todas as seguradoras consorciadas com o intuito de bem atender os segurados e vítimas de acidentes de trânsito, prevalecendo o monopólio hoje existente e que gera irregularidades já denunciadas pelo Ministério Público, Polícia Federal e constatadas pela Susep.
Na análise do executivo, em um ambiente de livre comércio, os grandes grupos já teriam 25% do seguro DPVAT, o correspondente a fatia de motoristas que fazem o seguro de seu automóvel. Na disputa pelos demais 75% do mercado, as grandes seguradoras vão usar a Líder.