Vilão do DPVAT, o acidente com motocicleta acontece, de fato, em grandes proporções em todo o País. Mas, talvez, não na grandeza que as estatísticas da Seguradora Líder apontam, cuja credibilidade foi colocada em xeque. Os números estariam inflados pelas fraudes, que, segundo indicam as investigações realizadas em Minas Gerais e no Ceará, acontecem em grande escala e representam uma amostra do que acontece em tantos outros estados brasileiros.
Exemplo claro da descrença nas estatísticas veio do delegado Marco Aurélio França, da Delegacia de Itapipoca, cidade do interior do Ceará. Em seu depoimento a convite da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do DPVAT, encerrada no fim do mês passado, o titular da delegacia informou que em sua área, antes de fechados escritórios de DPVAT, a demanda era de 100 boletins de ocorrências por dia, sobre supostos acidentes de trânsito. “Hoje, nós temos – pasmem! – seis BOs [por dia], no máximo. Às vezes, três ocorrências”, revelou.
Para o promotor Paulo Márcio da Silva, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), não há dúvida de que as estatísticas estão distorcidas. “Duvido que o número de 50 mil mortes por ano [decorrentes de acidentes de trânsito] seja real”, ressaltou ao participar de outra audiência pública na CPI do DPVAT. “Porque dentro das fraudes que nós investigamos – prosseguiu –, há uma fraude que atua especificamente dentro das funerárias e dos hospitais. Ou seja, transformam a morte em acidente de trânsito, tenha morrido de qualquer causa, inclusive natural. Segundo ele, a máquina envolvida nas fraudes provoca as distorções.
Numa breve demonstração dessa distorção, o também promotor do MPMG Guilherme Roedel Fernandez disse que, pela simples análise das estatísticas da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais, que mostram a evolução de acidentes de trânsito com vítimas entre os anos 2012 e 2016, foi possível perceber que, do início das investigações em agosto de 2014, o número de 900 supostos acidentes de trânsito mensais no Norte do estado, no pico, caiu, em média, para 300 ocorrências, uma queda superior a 66%.
Com isso, o promotor assinalou que toda a política pública de prevenção, destinação de recursos, etc, estava focada em um número irreal de acidentes. E acrescentou: “Devemos nos questionar. Será que, de fato, esse número tão alarmante [de acidentes de trânsito] divulgado diariamente nos jornais é real? Ou é também um número inflado? É óbvio que o número de acidentes é visível e alarmante em nosso País. Mas talvez os números estejam sendo maquiados”.
Até o momento, a Seguradora Líder não divulgou qualquer número sobre a quantidade de indenizações pagas pelo DPVAT este ano.