Na primeira semana de outubro, três cientistas ganharam o prêmio nobel de medicina por identificarem os guardiões do sistema imunológico, as células T reguladoras, que impedem que as células imunológicas ataquem nosso próprio corpo. Os descobrimentos sobre a tolerância imune periférica têm estimulado o desenvolvimento de tratamentos médicos para câncer e doenças autoimunes. Isso também pode levar a transplantes mais bem-sucedidos. Vários desses tratamentos estão atualmente em ensaios clínicos.
Os 3 cientistas premiados pelo Nobel – dois pesquisadores dos Estados Unidos, Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell, e o outro pesquisador do Japão, Shimon Sakaguchi – chegaram a um resultado fantástico após a reunião de pesquisas desenvolvidas em diferentes locais.
O trabalho de Shimon Sakaguchi, publicado em 1995, mostrou que a tolerância imunológica não ocorre apenas pela eliminação de células potencialmente perigosas no timo (processo conhecido como tolerância central), como se acreditava até então. Ele identificou um novo tipo de célula imune — as T reguladoras — capazes de proteger o corpo de doenças autoimunes.
Anos depois, em 2001, Mary Brunkow e Fred Ramsdell descobriram juntos que uma mutação no gene FOXP3 estava por trás de uma síndrome autoimune grave e mostraram que o gene é essencial para o desenvolvimento dessas mesmas células T reguladoras.
O Infectologista do Instituto Emílio Ribas, também membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia Rosana Richtmann, explica que a descoberta é muito interessante porque mostra nosso sistema imune aprende a lidar com esses agentes agressores, produzindo proteínas, anticorpos, exatamente para que a gente não tenha essas infecções.
“Só que chega em um determinado momento que o nosso sistema imune tem que falar chega, você já resolveu a infecção. Não é mais para você produzir essas células que vão destruir algumas outras células, alguns outros microorganismos. Se eu não tenho um freio adequado que é a célula TRegs (T Reguladoras) para moderar, o sistema imune pode reconhecer células nossa como agressões e, com isso, causar a destruição das próprias células. São as doenças auto-imunes, como diabetes tipo um, seja o mieloma múltiplo, lupos. Essa foi a pesquisa no Japão”, explica Rosana Richtmann.
Nos Estados Unidos, outros dois cientistas pesquisaram a parte genética. A mutação do gene FOXP3 indica que o freio está desregulado e com isso a pessoa pode desenvolver uma doença auto-imune, porque ela não tem essa regulação, essa moderação, segundo Richtmann.
“A hora que se juntas as pesquisas do Japão com essa outra pesquisa nos Estados Unidos, com foco diferente, mas com o mesmo objetivo, chega-se a um resultado fantástico, que é mudar o ponto de vista de prevenção e tratamento, em especial para doenças auto-imunes e também em relação ao câncer. Então, o avanço da medicina é incrível com novas tecnologias de vacinas e novas descobertas imunológicas”, diz a infectologista Rosana Richtmann.