O estudo, publicado na revista Pediatrics em dezembro, concluiu que crianças que tinham um smartphone aos 12 anos apresentavam maior risco de depressão, obesidade e sono insuficiente do que aquelas que ainda não possuíam um. Os pesquisadores analisaram dados de mais de 10.500 crianças que participaram do Adolescent Brain Cognitive Development Study — o maior estudo de longo prazo já feito sobre desenvolvimento cerebral infantil nos Estados Unidos.
O estudo apontou que, quanto mais cedo crianças menores de 12 anos recebiam seu primeiro smartphone, maior era o risco de obesidade e de sono ruim. Os pesquisadores também analisaram um grupo de crianças que não tinham celular aos 12 anos e descobriram que, um ano depois, aquelas que passaram a ter um apresentaram mais sintomas prejudiciais de saúde mental e pior qualidade de sono do que as que continuaram sem celular.
O autor principal do estudo e psiquiatra infantil e adolescente do Hospital Infantil da Filadélfia, o médico Ran Barzilay, avia que ao dar um telefone ao filho, pais precisam encarar isso como algo que tem impacto significativo na saúde dele.
O novo estudo mostra apenas uma associação entre receber um smartphone mais cedo na adolescência e piores resultados de saúde — não prova causa e efeito.
Não existe uma diretriz clara sobre a idade recomendada para o primeiro celular. A orientação geral é apenas que isso não aconteça durante a infância, considerada até os 12 anos incompletos. No Brasil, essa também é a posição do Ministério da Saúde.
Pesquisadores destacam estudos anteriores, indicando que jovens com smartphones podem passar menos tempo socializando presencialmente, se exercitando e dormindo. São hábitos essenciais para o bem-estar.
A adolescência é um período sensível, em que até mudanças modestas no sono ou na saúde mental podem ter efeitos profundos e duradouros, observam os pesquisadores nos estudos realizados.
O objetivo do estudo não é constranger pais que já deram celulares aos filhos, disse o Dr. Barzilay. E ele é realista sobre o quanto os smartphones já estão enraizados na adolescência americana.
A idade que o adolescente recebe o celular é importante. Segundo o Dr. Barzilay, “uma criança de 12 anos é muito, muito diferente de uma criança de 16”.
Em entrevistas concedidas a programas de tv nos Estados Unidos, o Dr. Barzilay explicou que tem três filhos, dois dos quais receberam celulares antes dos 12 anos. Mas, segundo ele, seu filho de 9 anos não terá um tão cedo.
Ele incentivou outros pais a considerarem os novos dados sobre os riscos potenciais do acesso precoce ao smartphone ao decidir quando dar um dispositivo às crianças.
A idade mediana em que as crianças do estudo receberam seu primeiro smartphone foi 11 anos. E, segundo um relatório recente do Pew Research Center, praticamente todos os adolescentes americanos dizem ter acesso a um smartphone.
O estudo utiliza dados coletados entre 2016 e 2022, um período marcado pela ascensão das plataformas sempre ativas e pela crescente ideia de que um smartphone marca o início não oficial da adolescência.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, Berkeley e Columbia estudaram como a idade do primeiro uso de smartphone se relaciona com os resultados de saúde posteriores.
Ao longo dos dois anos de acompanhamento com mais de 10 mil pessoas, os pesquisadores observaram que, ao comparar adolescentes de 12 anos que tinham celular com aqueles que não tinham, quem já tinha um smartphone apresentava mais chance de dormir menos de nove horas por noite — o recomendado para essa idade de desenvolvimento. Nessa mesma faixa etária, quem possuía um celular também apresentava maior risco de obesidade, além de um risco mais alto de depressão.
O estudo também acompanhou adolescentes que não tinham o aparelho aos 12 anos, mas ganharam aos 13.
Em apenas um ano com acesso ao telefone, eles apresentaram maior risco de atingir níveis clínicos de psicopatologia e maior probabilidade de sono insuficiente, mesmo quando a saúde mental e o sono do ano anterior tinham bons níveis. Ou seja, o impacto aparece rapidamente.
Os adolescentes que ficam por longas horas de exposição ao celular, considerado uso problemático, foram excluídos da pesquisa.
Basta a posse do celular, com o acesso irrestrito ao ambiente digital, para alterar rotinas e comportamentos importantes, como sono, alimentação e interação social.
Embora pesquisadores continuem debatendo os efeitos negativos dos smartphones nas crianças, a maioria tende a concordar que os aparelhos podem impedir que elas durmam o suficiente. Um estudo de 2023, que usou a amostra do Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), constatou que 63% das crianças de 11 a 12 anos têm um dispositivo eletrônico no quarto. E quase 17% disseram ter sido acordadas por notificações do celular na última semana.
Tirar os celulares do quarto durante a noite é um passo simples que as famílias podem tomar para reduzir alguns dos efeitos negativos associados aos smartphones — ainda que essa seja uma atitude difícil para muitas famílias.