Olá para todos, Paulo Mubarack falando.
Fiz uma auditoria recentemente numa empresa e descobri um software para desenhar perfis assimétricos atirado em um canto. Você aí me ouviu muito bem: um software novinho em folha atirado em um canto, sem uso.
O software fora comprado a dois anos atrás, custara 50 mil dólares e a empresa pagava religiosamente todo mês uma mensalidade de mil e trezentos dólares para receber as atualizações. E ninguém usava e nem se importava com o software.
O CEO, dono da empresa, arregalou os olhos quando leu a não conformidade apontada no meu relatório.
Noutra auditoria, outro fato, outra empresa, verifiquei que o departamento de manutenção, pressionado por resultados ruins nos seus indicadores de paradas operacionais, tempo médio entre falhas de equipamentos gargalo e tempo médio para reparos, compraram software de manutenção no Estados Unidos por, pasmem, dois milhões de dólares.
Auditei obviamente o benefício de software. E um supervisor, mais exaltado, no meio da fábrica, pressionado por mim e pelos outros auditores para mostrar o custo benefício de tal aquisição, disse: “seu Mubarack, esse software é um elefante sem [informação], a gente o alimenta com toneladas de dados todos os dias e ele não [fornece] uma informação útil se quer”.
Gente, eu poderia ficar mais dois dias aqui contando casos semelhantes a estes, de extraordinários desperdícios na aquisição de softwares, mas o que me interessa nesse áudio é comunicar cinco pontos:
1. Os softwares normalmente eram bons e não tinham culpa nenhuma do desperdício.
2. Os gestores compraram esses programas tentando uma solução fácil para maus resultados que estavam entregando e que muitas vezes não tinha qualquer relação com as causas dos maus resultados. O software entrou e as causas continuaram as mesmas, eram outras e os resultados permaneceram ruins.
3. Os fornecedores vieram, implantaram o software, treinaram a equipe e foram embora. Não deixaram indicadores, padrões ou processo e tão pouco a empresa pediu. O software entrou num ambiente que já estava desorganizado e que continuou desorganizado, só que agora de uma forma mais cara.
4. Não foi feito – pasmem novamente – um follow-up do custo benefício da aquisição. Você compra um software de dois milhões de dólares ou de 50 mil dólares, que seja, e você não aditada detalhadamente o custo benefício.
5. A equipe treinada aos poucos mudava de área ou saía da empresa. Como o software não estava inserido em processo com padrões, com PDCA girando, com auditorias, com treinamento, com retreinamento, os novatos simplesmente não utilizavam ou utilizavam o software de maneira precária.
CONCLUSÃO
Implantar software sem o SIG, Sistema Integrado de Gestão, é suicídio. SIG significa ter processos anteriores a entrada do software, conhecer-se as deficiências desse processo, identificar as causas dessa deficiência e aquelas causas que apontam para a falta de software, devem ser claramente resolvidas com software e devem ser analisados os programas de computador que realmente resolverão essas causas.
O problema, gente, é que implantar um software novinho em folha tem muito glamour, mas [é preciso] analisar previamente os processos, criar indicadores e padrões, treinar a equipe, verificar o por quê dos maus resultados, estudar cuidadosamente o software que poderia ser comprado, verificar como ele se integraria ao processos e como ele eliminaria as causas, quais mudanças seriam necessárias no processos e até nos perfis das pessoas que lá trabalhavam.
Tudo isso é muito chato e cansativo e muitas empresas, e muitas e muitas, ficam apenas com o glamour do novo software. Neste caso, este glamour custa muito caro para o caixa das organizações.
Paulo Mubarack gravou esse áudio em 6 de agosto de 2020.