A manicure Ivanete Duarte conta que já foi três vezes aos Correios enviar a documentação para a mãe dela, que sofreu um acidente de carro, conseguir receber a indenização do seguro obrigatório, o DPVAT. “Dão prazo de 120 dias. Dentro desse prazo, eu mando, aí volta o papel de novo, faltando alguma coisa. E até então eu quero saber o que está faltando”, diz.
O DPVAT indeniza vítimas de acidentes de trânsito. A cobertura é por morte, invalidez permanente e despesas médicas. Para dar entrada no processo, não é preciso ter advogado, nem despachante. Teoricamente, seria só enviar a documentação.
Geraldo José Pereira está andando de muleta. Ele é motoboy e sofreu um acidente de moto em maio. Quebrou a perna em três lugares e ainda precisou colocar um parafuso. Por isso, está sem trabalhar. “Laudo, tudo que eles pediram, já mandei. Só que depois fala que está faltando outro documento. Mas como? Não tem como. Não tem mais documento pra gente mandar”, diz.
Só em Belo Horizonte são 81 pontos de atendimento autorizados a receber e encaminhar os documentos das vítimas para a seguradora que administra o DPVAT. Só que até mesmo os credenciados têm reclamado que a seguradora tem dificultado os pagamentos.
Um corretor que prefere não se identificar diz que a seguradora nega, por exemplo, casos de acidente com invalidez: “Chegando lá, eles fazem uma análise documental apenas e negam. Estão negando uma grande maioria dos sinistros”.
O corretor afirma ainda que a seguradora reduziu o pagamento de indenizações: “Enviamos em torno de 400 a 500 processos por mês. E hoje eles estão pagando em torno de 80 processos por mês”.
Enquanto a situação não se resolve, a dona de casa Maria do Carmo Ribeiro mostra a pilha de documentos e relatórios que já enviou à seguradora. Ela quer receber a indenização do filho dela, Tadeu, de 21 anos. Ela diz que aos 18 anos ele foi atropelado em uma rodovia e ficou tetraplégico. “Te pede documento, você manda. Depois pede documento de novo, você manda. Eles querem vencer você por cansaço. Vou continuar, se é direito dele”, garante.
A seguradora Líder, responsável pela gestão do DPVAT, declarou que simplificou o serviço de envio de documentos, mas que ainda há vítimas que não enviam corretamente. Sobre o pagamento de indenização, a Líder afirma que caiu o número de acidentes e que, além disso, a seguradora aumentou a rigidez no processo para evitar fraudes e está investindo em campanhas para esclarecer sobre como entrar com os pedidos de indenização.
“É super fácil, qualquer agência dos Correios está capacitada e treinada para fazer esse atendimento. O envelope é um porte pago da seguradora Líder, não tem nenhum custo. O nosso objetivo maior é para que a indenização seja rápida, é indenizar com base só na documentação. Quanto mais completa vier a documentação, mais rápida a indenização é emitida”, afirma Artur Froes, superintendente de operações da seguradora Líder.