Saúde
02/09/2025
0 Comentário(s)

Transtornos mentais entre adolescentes crescem no Brasil e no mundo

Ansiedade, depressão e baixa autoestima afetam cada vez mais jovens. O acesso a atendimento continua limitado

A adolescência é uma fase de muitas descobertas, mas também de grandes desafios emocionais. Tristeza constante, ansiedade, baixa autoestima, depressão, insegurança e experiências traumáticas, como violência, abuso e falta de apoio familiar, têm impactado seriamente a saúde mental de adolescentes no Brasil e ao redor do mundo.

No Reino Unido, dados recentes de 2025 mostram um aumento preocupante: cerca de 8% das crianças e adolescentes — o equivalente a quase um milhão de jovens — foram encaminhados a serviços especializados em saúde mental. A ansiedade aparece como o principal motivo, seguida por dificuldades de neurodesenvolvimento e autismo. Esse número representa um crescimento de 10 mil casos em relação ao ano anterior, sinalizando uma tendência que preocupa profissionais de saúde e educadores.

No Brasil, embora ainda não existam números nacionais consolidados sobre quantos adolescentes estão recebendo tratamento psicológico ou psiquiátrico, a preocupação é crescente. Especialistas e organizações sociais alertam que há uma grande demanda por acolhimento emocional e por serviços de saúde mental adequados para os jovens.

Ao mesmo tempo, o tendimento médico específico para adolescentes ainda é raro no Brasil. Deve-se ao baixo número de profissionais especializados em saúde física e mental dos jovens, acompanhando-os desde a rotina escolar até a vida adulta. A ausência de acesso a psicólogos e psiquiatras, especialmente na rede pública de saúde, agrava ainda mais o cenário. Muitos jovens vivem em locais onde não há nenhum tipo de atendimento psicológico disponível.

Entre as iniciativas que vêm tentando preencher essa lacuna está o projeto da SAS Brasil, uma organização que oferece atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito para comunidades em situação de vulnerabilidade. Desde que começou, a iniciativa já beneficiou cerca de 2.500 pessoas. E, a partir de 2025, a organização amplia seu alcance: passa a atender também adolescentes a partir de 14 anos, de qualquer gênero, uma mudança que responde diretamente ao crescimento da demanda.

“Existe uma grande demanda entre os jovens. A gente percebe pelos altos índices de ansiedade”, afirma Marluce Martins, coordenadora de Psicologia da SAS Brasil. Segundo ela, muitos adolescentes chegam ao atendimento com sintomas graves, como crises de pânico, insônia, isolamento social e até autolesões — mas sem nunca terem conversado com um profissional da saúde mental antes.

Outra frente importante é o trabalho realizado pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que, entre 2021 e abril de 2025, impactou mais de 114 mil adolescentes com ações focadas em saúde mental. A organização atua promovendo escuta qualificada, apoio psicossocial e formação de profissionais de saúde, com o objetivo de fortalecer as redes de cuidado em todo o país.

Um dos principais canais criados nesse contexto é a plataforma Pode Falar, um espaço gratuito e anônimo onde jovens de 13 a 24 anos podem conversar com especialistas, tirar dúvidas e acessar conteúdos de apoio emocional. A ferramenta, que funciona online, tem se tornado um porto seguro para milhares de adolescentes que não se sentem à vontade para buscar ajuda em casa ou na escola.

Além disso, a parceria entre UNICEF e Fiocruz já resultou na capacitação de 28 mil profissionais da área da saúde em temas ligados ao bem-estar e à saúde mental de adolescentes. Essa formação tem sido fundamental para preparar a rede pública para lidar com a crescente demanda por cuidados nessa faixa etária.

“A adolescência é uma fase com muitos estímulos, mudanças e incertezas. Por isso, é fundamental que políticas públicas de saúde mental levem em conta os aspectos emocionais, físicos e sociais dos jovens e que eles participem dessas discussões”, destaca Mario Volpi, chefe da área de adolescentes do UNICEF no Brasil.

Especialistas explicam que a piora na saúde mental dos jovens está associada a uma série de fatores. A pressão por desempenho escolar, as cobranças por decisões sobre o futuro profissional e o medo de fracassar geram altos níveis de ansiedade.

Também o uso excessivo das redes sociais também aparece como um fator de risco. Muitos adolescentes vivem em constante comparação com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade.

Casos de bullying, discriminação por orientação sexual, identidade de gênero ou etnia, além da violência doméstica ou urbana, ainda contribuem para o adoecimento mental. A baixo  autoestima é um forte agravante.

Proteja-se com a