O sistema capitalista tem o risco como um de seus fundamentos. Ganhos maiores sempre são associados a riscos maiores. Quando subvertemos este princípio, pagando mais para gente das áreas de apoio e menos para o pessoal de vendas, produção, logística e compras, instalamos o contrário da meritocracia e este é um caminho extremamente perigoso e desmotivador. Todas as metas, incluindo pessoal de apoio, devem envolver diretamente dinheiro.
A maioria das pessoas odeia correr riscos. Muitos abdicam de projetos empreendedores, outros até mesmo de uma promoção, porque detestam o risco. Vida estável (como se isto fosse possível) é sinônimo de pouco dinheiro e de reconhecimento quase inexistente, mas ainda é a opção preferida por 999 entre 1000 profissionais. Especialmente no Brasil, onde temos a cultura decadente do emprego público, mas de forma generalizada em todo o mundo, sonhos e carreiras promissoras são sepultados em nome da “estabilidade”.
Li muitas vezes que o Brasil é um país de empreendedores, onde as pessoas sonham com o próprio negócio e a liberdade de decidir sobre seus próprios narizes. Bobagem, e da grande. Somos um país de medrosos, onde a estabilidade é desejada mais do que tudo. Quem afirma sermos um país de empreendedores baseia-se em pesquisas onde, cinicamente, os brasileiros afirmam que gostariam de ter suas próprias empresas. São pesquisas onde proliferam palavras vazias, ditas sem responsabilidade.
Um ponto importante nesta discussão: empreendedores não são apenas aqueles que abrem seus próprios negócios, são também aqueles que, com menos gosto pelo risco, mas também audaciosos, impulsionam as empresas que os empregam para voos muito altos. Ou Jack Welch não foi um empreendedor? Pessoas como ele são empreendedores internos, aqueles que se abrigam nas marcas e na estrutura oferecidas por investidores (portanto, correndo menos riscos), mas são ousados quando comandam o patrimônio alheio. Moral da história: dentro do processo de seleção e de avaliação de pessoas, os atributos “empreendedorismo” e “gosto pelo risco” devem ter peso forte, especialmente para decisões sobre promoções.
Um último item nesta discussão: ter gosto pelo risco, ser empreendedor ou audacioso, não significa ser irresponsável e se jogar de peito aberto às balas do inimigo. Ao contrário, o risco deve ser sempre calculado, pois é um produto da probabilidade de acontecer vezes o impacto que vai causar se tudo der errado. Aliás, esta é a pergunta-chave quando da assunção de um risco: “qual é o tamanho da pancada se tudo der errado?”. Esta é a chave para a decisão.
Treinar, usar a própria experiência e a dos outros e elaborar plano de ação A, B etc. são ações simples que mitigam os efeitos perigosos do risco. E, atenção, por favor: quem corre mais riscos dentro de uma empresa (pessoal de vendas, produção, suprimentos) deve ganhar muito mais do que o pessoal do apoio, que nem mesmo tem concorrentes ou receita para se preocupar. Ninguém questiona a importância das áreas de apoio, mas somente se também estiverem dispostas a correr riscos. Do contrário, apenas contribuem para elevar as despesas. Lição? Não empregar ninguém em áreas de apoio que não tenha sob suas costas uma grande responsabilidade numérica, envolvendo custos e produtividade. Exemplos? Meta para um gerente de RH ou de TI: com seus projetos, reduzir em x% o número de pessoas nas áreas em menos de um ano, aumentando a produtividade dos que ficam com treinamento e tecnologia. Afinal de contas, a vida deve ser difícil e arriscada para todos e a estabilidade deve ser banida de uma empresa privada. Metas, com exceções, devem sempre envolver dinheiro.