Uma parcela das funerárias também monta esquemas para fraudar o seguro DPVAT, conforme aponta o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), na região de Janaúba, depois de deflagrada a operação policial Tempo de Despertar. “O que me deixou mais estarrecido, e seria a segunda fase da investigação, foi a questão das funerárias. Hoje, tenho medo de sofrer um acidente [automobilístico] em uma estrada, porque a funerária chega antes do pessoal do Samu. O que acontece? Eles exigem que a pessoa assine um documento para receber o DPVAT”, revelou o promotor Bruno de Oliveira Muller em audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do DPVAT.
Bruno Muller salientou que se o documento não for assinado, o pessoal da funerária não libera o corpo. “[Veja a situação], grande parte desses locais não dispõe de um IML (Instituto Médicos Legal). [Nesses casos], o corpo do acidentado fica sob responsabilidade da funerária”, relatou, para destacar que não há garantia de que a vítima recebeu realmente atendimento ou foi deixada no local.
Nessa linha, a deputada Christiane de Souza Yared (PR-PR) comentou que se viu diante de situação semelhante, confidenciando, sem entrar em detalhes, ter sido abordada por dois agentes funerário antes mesmo do corpo do seu filho chegar ao IML. “É algo impressionante e precisa ser combatido”, desabafou.
O promotor Paulo Márcio da Silva, do MPMG em Montes Claros, também em audiência na CPI do DPVAT, disse que, dentre as fraudes investigadas, uma se dá especificamente dentro de funerárias e de hospitais para transformar mortes, por exemplo natural ou outra causa, em acidente de trânsito. Durante as investigações, por meio de escutas telefônicas, ele comentou que funerárias também participam de esquema de fraudes, vendendo informações sobre mortes de pacientes.
“Enquanto um boletim de ocorrência custa R$ 100, a informação sobre morte custa R$ 500… Há um verdadeiro mercado. São vários mercados que se formaram em torno do seguro DPVAT – são vários. Cada um cumpre o seu papel e as funerárias também. Um sujeito que morre de determinada causa, porque caiu do cavalo, por exemplo, é dado como morto em um acidente de trânsito e recebem o valor de R$ 13.500 de indenização… É o modelo mais cobiçado”, detalhou.
Para o delgado federal Marcelo Eduardo Freitas, um dos responsáveis pela operação Tempo de Despertar, a questão das funerárias está diretamente ligada, hoje, às pessoas que atuam no ramo de captadores de supostas vítimas. Para se ter uma ideia, a operação demonstrou exatamente isso. Um desses captadores tinha uma vasta quantidade de clientes, atuando exatamente no ramo de funerária, antes de entrar no ramo de captação de vítimas do DPVAT. Não temos a menor dúvida de que há uma intrínseca ligação das funerárias quanto a questão [das fraudes no seguro obrigatório do trânsito]”, sustentou Marcelo Freitas.