Uma das maiores virtudes da indústria seguradora é a Provisão Técnica.
“Provisões que expressam o valor correto ou estimado das obrigações contraídas em função dos contratos de seguros e de resseguros subscritos, assim como das despesas ligadas ao cumprimento destas obrigações e dos prêmios não ganhos, que são a parcela de prêmios das apólices referentes ao período de risco ainda a decorrer. São parte do passivo da seguradora”.¹
A tragédia do RS pode ser divisora de águas, quanto ao entendimento das características do seguro e as características da Proteção Patrimonial. Por isso, precisamos saber o que elas deixarão de legado. As duas vertentes do mutualismo estão sendo observadas. Porém, é muito difícil entender uma dessas nuances do mutualismo.
Apesar da correria e dos milhares de pagamentos feitos pelas seguradoras, as provisões dessa indústria seguradora são muito altas, além das demais características que somente o seguro possui em garantias.
Infelizmente, neste momento, acho impossível saber a realidade do que aconteceu na outra indústria e torcendo para ser menor do que poderíamos supor, em apoio ao “segurado” que teve prejuízo. Aliás, fico imaginando o tamanho dos prejuízos que os demais contextos apresentarão. Enfim, sem saber o tamanho do volume, fico pensando no poema de Carlos Drummond de Andrade, a fim de não concluir o meu texto com o meu otimismo ou pessimismo em relação às perdas das pessoas no RS:
“José²
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?”
Armando Luís Francisco
Jornalista e Corretor de Seguros