“O número de mortes e o de casos de invalidez por causa do trânsito deve estar em torno de 50% acima das estatísticas conhecidas, porque, em muitos casos, os envolvidos não cobram o seguro DPVAT”, aponta o professor de Logística e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC) Paulo Resende, conforme relatou Carmen Zanotto (PPS-SC) em pronunciamento na Câmara Federal dias atrás.
Na avaliação do especialista, o primeiro impacto dos acidentes de trânsito se dá na renda, porque essas mortes e esses casos de invalidez levam à geração de menos riqueza. “A produtividade cai com a morte ou invalidez de pessoas no auge da idade produtiva”, diz Resende, ressaltando que “os acidentes sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS). O efeito é devastador, porque é uma guerra silenciosa”.
No mesmo pronunciamento, Carmen Zanotto cita também informações do estudo do Centro de Pesquisas e Economia do Seguro (Cpes), da Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg), segundo o qual, em média, cada acidente de trânsito custa à sociedade brasileira R$ 72.705,31, sendo que cada acidente envolvendo vítima fatal teve um custo médio de R$ 646.762,94. Os desastres letais responderam por menos de 5% do total de ocorrências, mas representou cerca de 35% dos custos totais. Para a deputada, essa tragédia indica “a necessidade de intensificação das políticas públicas de redução não somente da quantidade dos acidentes, mas também da sua gravidade”.
O estudo do Cpes constata que só no ano passado houve 33.347 mortes e 28.032 casos de invalidez permanente. Ainda assim houve uma queda de 32,35% em relação a 2015, quando foram registrados 42.501 mortes e 57.798 casos de invalidez permanente, gerando custo estimado de R$ 217,11 bilhões, ou 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2016, a perda de R$ 146 bilhões por conta dos acidentes de trânsito foi equivalente a 2,3% do PIB. Quase 75% dos acidentados estão na população economicamente ativa. “São pessoas que deveriam estar trabalhando”, destaca Carmen Zanotto.
Segundo ela, o coordenador do levantamento e diretor do Cpes, Claudio Contador, atribui a queda a dois fatores: a forte retração da economia (em 2016, o PIB caiu 3,6%, no segundo ano seguido de recessão), o que afetou as vendas de veículos; e o aumento da fiscalização, principalmente com as operações da Lei Seca.
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que os acidentes de trânsito são o primeiro responsável por mortes de pessoas na faixa de 15 a 29 anos de idade; o segundo, na faixa de 5 a 14 anos; e o terceiro, na faixa de 30 a 44 anos. Sem campanhas de conscientização, a OMS estima que 1,9 milhão de pessoas devem morrer no trânsito em 2020, passando a ser a quinta maior causa de mortalidade, e 2,4 milhões, em 2030. O Brasil aparece em quinto lugar entre os países recordistas em mortes no trânsito, atrás de Índia, China, Estados Unidos e Rússia.