Matéria do jornalista Alberto Salino publicada no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro em 23 de dezembro de 1983
“Participar sem medo e eficazmente das alternativas que possibilitem solucionar a atual crise que atravessa o País, para que o Governo adquira credibilidade e representatividade, são as iniciativas prioritárias que o empresariado nacional deve se dispor a adotar, no sentido de contribuir para a reversão do quadro econômico e político brasileiro”. A opinião, manifestada ontem, é do presidente da Gente Grupo de Seguros, Sérgio Suslik Wais.
O empresário gaúcho, que participou recentemente da XIX Conferência Hemisférica de Seguros, realizada em S. Francisco da Califórnia, Estados Unidos, afirmou, citando o cineasta Jean-Luc Goddard, que “nada é mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou e que por isso é preciso que os empresários, de uma forma mais eficiente, comecem a fazer o que pensam, para que os outros não façam aquilo que não pensam”. Wais acrescentou que “antes de tudo é preciso assumirmos uma posição política em defesa de nossos direitos, sempre tendo em vista a necessidade de mudar o conceito e a realidade que hoje temos a respeito de nosso País”.
“Basicamente – salientou o segurador – defendo a importância de sermos mais patriotas, pois só resolveremos os nossos problemas, se resolvermos o problema do Brasil. É necessário ainda, em última análise, que a sociedade ocupe seu espaço e afaste falsos defensores da democracia e da livre iniciativa, que são os grandes beneficiários do sistema”.
PRIVILÉGIOS
Sérgio Wais observou que de 1970 para cá houve uma transformação completa do sistema econômico e financeiro no Brasil. A partir do processo de fusões e incorporações, disse ele, o Governos visada a fortalecer um pequeno número de empresas, em detrimento do sistema eficaz e democrático de livre iniciativa. “Em suma, o Brasil partiu para uma solução de beneficiar um pequeno grupo, sob o propósito de fortalecer o mercado em prejuízo de um princípio constitucional favorável à livre iniciativa e a geração de empregos produtivos”, ressaltou.
Hoje, decorridos mais de dez anos, constatou Wais, o mercado segurador nacional diminuiu a sua participação em relação ao PIB, a ponto de ocupar, em relação a outros países, a humilde posição de último lugar, logo após a índia, como demonstra Peter Walker em seu estudo apresentado na XIX Conferência Hemisférica.
LIVRE INICIATIVA
Dados do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e do Banco Central revelam, garantiu o segurador, que a participação dos depósitos dos bancos comerciais no PIB vem declinando sensivelmente, passando de 22,06% em 1950 para 12,50% em 1970. Em 1980, segundo ele, reduziu-se ainda mais: 9,60%. Da mesma forma, esclareceu, enquanto em 1970 havia 573 sociedades distribuidoras, 404 corretoras, 184 seguradoras e 214 sociedades de crédito, financiamento e investimento, em 1980 esses números caíram de forma significativa: 453 sociedades distribuidoras, 270 sociedades corretoras, 97 seguradoras e 120 sociedades de crédito, financiamento e investimento. “O Brasil adotou o único modelo do mundo que, através da redução do número de empresas, pretendeu aumentar o número de empregos e, por conseguinte, o seu crescimento”, enfatizou.
Com referência à participação estatal na economia, o que vem ocorrendo, na opinião de Wais, é que se está produzindo administração, em vez de se administrar a produção.
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