Cientistas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, anunciaram um gel capaz de regenerar o esmalte dentário, a camada mais dura e protetora dos dentes. A descoberta dos pesquisadores da Escola de Farmácia e do Departamento de Engenharia Química e Ambiental da Universidade de Nottingham foi anunciada no site da universidade neste mês, publicada no site Science Daily e também na revista Nature Communications.
Diferente dos tratamentos atuais, que apenas fortalecem ou preenchem o esmalte danificado, essa tecnologia reconstrói a estrutura original do dente com força e resistência quase iguais às do esmalte natural.
O gel é formulado a partir de proteínas que imitam aquelas naturalmente presentes na saliva e no processo de desenvolvimento dos dentes na infância.
Essas proteínas funcionam como um “andaime”: depois de aplicar o gel, ele atrai íons de cálcio e fosfato – minerais presentes na saliva – e orienta a formação de novos cristais minerais. Esse processo é chamado de mineralização epitaxial, uma forma organizada de crescimento mineral que permite que os novos cristais se integrem diretamente à estrutura do dente.
Segundo os pesquisadores, a camada criada pelo gel não é apenas uma proteção superficial. Ela é fina, resistente e capaz de preencher fissuras microscópicas.
Em testes de laboratório em dentes humanos extraídos, a nova estrutura resistiu bem a simulações de escovação, mastigação e exposição a ácidos, considerados agentes que causam desgaste e cárie.
Um ponto importante é que esse gel não contém flúor, diferente de muitos tratamentos preventivos tradicionais. Mesmo assim, ele promove a reconstrução do esmalte ao usar os próprios minerais da saliva, o que pode torná-lo uma alternativa mais natural.
Além de regenerar esmalte, o gel também pode ser usado sobre a dentina, camada mais interna e sensível do dente, exposta quando o esmalte está muito desgastado. Nesses casos, o material cria uma nova “fachada” mineral que ajuda a proteger a dentina e pode reduzir a sensibilidade dentária.
Para os pesquisadores, a ideia é transformar esse achado em aplicações clínicas. Eles já têm uma startup chamada Mintech-Bio para levar o gel ao mercado. Segundo a universidade, o produto poderá estar disponível em breve. A descoberta abre caminho para um tratamento odontológico mais eficaz e duradouro.
Mesmo com resultados animadores, é importante lembrar que os testes até agora foram feitos fora da boca (em dentes já extraídos) — ainda não há estudos clínicos em pacientes vivos para avaliar a durabilidade da nova camada ao longo do tempo.
Se esse gel se tornar efetivo em tratamentos práticos, pode significar uma grande mudança para a odontologia: em vez de apenas parar o dano, será possível reconstruir parte do esmalte perdido, protegendo melhor os dentes e diminuindo problemas como cáries e sensibilidade dentária.